100mim tem escolhido para cada mês um tema. Foi o mês de Robert Bresson, de Herberto Helder, dos ”Queen”, Saramago, Paul Éluard, etc. E Manoel de Oliveira está sempre presente. Julho foi dedicado à Educação. Em Agosto foram as Bombásticas na praia, na sua 2ªedição. Outubro foi o mês dos roubos no FB que gosto. O mês de Novembro, que hoje termina,foi sobre o DESASSOSSEGO. Começou num voo de moscardo, dentro de mim.
Não fiz nada parecido com o que queria. Queria ter ficado só com o Soares, do livro do desassossego. A minha gaveta fica cada vez mais cheia. Mas ainda bem.
Não fazer uma coisa como se pensou e cismar, é tão estúpido como dizer: era para ter ido ao Pingo Doce ontem, mas como morri, não pude ir.
Uma altura dei aulas numa escola profissional pela qual nutro um enorme respeito, porque a pessoa é tida como um todo, e assisti a muitos milagres. Uma turma foi muito especial. Só quase de raparigas. Aliás como quase todas. Todas teens, com piercings, as barriguinhas, e outros pormenores, bem em destaque. Nos intervalos agarradas umas às outras. Às vezes também na aula. E de TM na aula.As de cabelo comprido passavam parte do tempo a puxar para baixo as melenas, por faixas, e sobretudo à frente. As de curto, era mais a enrolarem o cabelo. Tirar pontos negros, roer as unhas. Umas encostavam a cabeça à mesa, e dormiam. Outras era só batota. Quando entravam vinham cheias das suas vidas, algumas muito difíceis diga-se. Não exagero. E eu que julgo que uma aula tem professor e alunos, que autoridade é sinal de beleza, que uma turma não é igual a outra – e cada uma delas muito menos – procurei educá-las. Que é a para isso que serve a escola, certo? E como um todo.
Ensinava-lhes filosofia. Por isso a muitas mandei fazer dieta, não espremer as borbulhas. Algumas deixaram de fumar e mais sei lá o quê. Muitas ficaram mais bonitas e mais mulheres (incluida aqui também eu). Embora não fosse a má, ou a chata da fita, sei que andava lá por perto. Filosofia pra quê? E a stoura não dá a MATÉRIA. Fala de outras coisas.
Trabalhos de casa, sei que para muitas era impossível, porque tinham de ser mães, mulheres, fome, e imagina-se. Mas um dia pedi-lhes que fizessem um trabalho para a 2ªfeira seguinte. Manif imediata. No meio da rebelião saíu-me: vocês sabem lá se morrem hoje. Ou eu (algumas, neste caso, talvez respirassem de alívio). Lá vem a stoura com essas coisas. Credo.
Era uma sexta feira, entra as quatro e as cinco. No dia seguinte, a primeira página do Correio da Manhã trazia o brutal acidente no qual a Ana foi. Não há palavras que descrevam a aula de 2ªfeira. Foi a “melhor” aula. Fui esmagada por abraços e choro, choro, coro. O “pior” foi os pais daquela filha única, linda de morrer ( os rapazes estiveram uns tempos em crise; se tivesse morrido uma assim mais feiosa, seria mais compreensível…). Apetece-me agora dizer uma asneira. Mas não digo. Há o outro lado.
A certa altura deixei aquela escola. Um dia o TM tocou. Eram “elas” a convidarem-me para sair à noite. Para uma borga. Fomos. E não estávamos esquecidas. Antes o contrário.
Amanhã penso e começo o tema de Dezembro, aqui. Ou sabe Deus onde.